domingo, 7 de setembro de 2008

Foca

Algures na Europa encontrei esta placa, que me mostrava o inicio de 10 dias de aprendizagem, aventura, reflexão e acima de tudo cultivo de mim e de quem eu sou.
Fiquei numa casa que não tinha água das 9h às 12h e das 16h às 20h, não havia camas suficientes para todos, alguns dormiam em colchões no chão.
A comida era do mais original - frango, almondegas, arroz, massa e douradinhos. Todos os dias já sabiamos que poderiamos contar com uma destas especialidades que a nossa cozinheira fazia para nós. Por vezes não havia comida suficiente para todos, pelo que alguns tinham de recorrer ao restaurante mais próximo para matar a fome.
As condições de higine também deixavam a desejar, quando havia água, tinhamos de lavar a loiça com àgua fria e tomar banho com um fio de água.
Todos os dias tinhamos aulas, e todos os dias aprendiamos mesmo fora delas. Houve algumas desistências nos primeiros dias, visto que havia pessoas que não souberam mesmo lidar com esta situação. Ficaram os resistentes, aprendemos a viver assim e a dar mais valor aquilo que temos.
Mas a grande aventura foi andar naquelas estradas em que uma curva vem atrás da outra e da outra e onde passam todos os tipos de veiculos,e o mais engraçado (ou não) é que se ultrapassam todos uns aos outros no meio daquelas curvas e por isso mesmo andam muito devagar pois a qualquer momento poderá vir um carro em sentido contrário. Não há auto-estradas neste pais e por isso têm de se adaptar ao que têm.
Também foi interessante conhecer pessoas que viveram lá e em paises que estiveram em guerra com a Bosnia. Conheci Servos, Macedónios, Bosnios, Croatas etc. Pessoas que viveram a guerra, que fugiram , que se refugiaram , que emigraram, que viram morrer pessoas das suas familias, que viram bombardear a casa dos vizinhos da frente e agradeceram por não ter sido a sua.
As paredes, mostram marcas de algo que se passou há 15 anos, marcas que por vezes ainda se encontram estampadas no rosto dos que habitam dentro dessas casas, marcas que se notam na sua forma de pensar e de viver determinadas situações.
Como poderiamos nós rejeitar totalmente as condições em que viviamos? Adaptei-me e aprendi a gostar de viver em Foca naqueles dias, sabendo que não iria ficar ali para sempre, pensando que realmente aquilo eram pormenores e que olhando em meu redor, dava todo o valor ao facto de em Portugal ter uma cama quente à minha espera, comida saudável e toda a água que eu quisesse.
Conheci diferentes culturas, pessoas especiais com vivências diferentes e percebi que nós os Tugas eramos os mais priveligiados dali, nós não vivemos guerra, nós não tivemos genocidio (como partilhou conosco uma menina do Burundi); nós não fomos bombardeados; nós vivemos num cantinho do céu como diz a minha avó e eu sublinho.

Cresci nestes 10 dias, pensei sobre muitas coisas, aprendi muitas outras, conheci pessoas interessantes e bebi a água de uma fonte em Sarajevo - que segundo a diz tradição - um dia vou lá voltar!

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